domingo, 8 de novembro de 2009

Sexualidade Infantil _ parte I

Desde os primeiros meses de vida o bebê percebe que certas partes do corpo, ao serem tocadas, proporcionam sensações prazerosas.

A masturbação é normal e freqüente a partir dos 3 ou 4 anos, ou até um pouco antes. Ela nada mais é do que o emprego de um recurso natural para a satisfação e, conseqüentemente, contra a frustração e a raiva, o ódio e o medo que se segue a isso. Na verdade, faz parte da auto descoberta da criança e da verificação de que a estimulação dos genitais provoca sensações agradáveis.

Uma vez descoberta, ela pode ser continuada e costuma ser mais freqüente em épocas de tensão, stress, tédio, monotonia ou para induzir ao sono. A masturbação pode ser considerada normal se ela se constitui apenas da estimulação da genitália, se é ocasional, discreta, em caráter privado, e se não impede nem substitui as atividades e brincadeiras habituais da criança.

Quando a masturbação é exagerada, passa a ser um sinal de alerta para problemas emocionais. Normalmente indica que as angústias a serem enfrentadas pelas crianças são excessivas. Talvez o que elas estejam precisando seja de maiores cuidados maternos, ou de um meio para saber que alguém está sempre por perto, enfim, de mais segurança.

Deve-se fazer uma investigação sobre o que pode estar angustiando tanto a criança. Nesse caso, é importante não haver proibição, desaprovação ou censura de tais atos, pois, sobretudo, essas atitudes a obrigam a dar importância a gestos que, para ela, ainda não têm o significado do mundo adulto, sendo apenas algo que faz parte da vida instintual.

A curiosidade a respeito das diferenças anatômicas é evidente desde muito cedo na vida das crianças, na hora do banho ou ao olhar o pipi do outro. Esses jogos sexuais ocorrem devido à curiosidade que a criança tem a respeito dos adultos, de como eles diferem das crianças e de como são feitos os bebês. Aos 6 anos ou até mais cedo, as crianças farão explorações mais sérias dos corpos umas das outras.

Brincar de "médico ou enfermeira" é sempre uma forma útil de satisfazer essa curiosidade, ou ainda uma brincadeira de "pegar no pipi". Uma certa dose de tais atividades é normal. O preocupante é a compulsão, crianças que fazem isso o tempo todo.

E importante uma investigação mais detalhada porque existem maneiras, que não chegam a se configurar como abuso sexual, de estimular exageradamente as crianças. As que tiverem contato com filmes para adultos ou com atividades sexuais dos adultos ficam excitadas e desnorteadas e acabam encenando isso com freqüência.

Elas precisam ser notadas, porque precisam de atenção e possivelmente de proteção. Os pais muitas vezes não sabem o que contar quando seus filhos fazem perguntas sobre esse assunto Segundo a psicóloga Nina Eiras Dias de Oliveira, a "educação sexual” acontece primordialmente no contexto da família onde a criança está inserida." Muitos pais preferem nem tocar no assunto. Outros superestimulam as crianças, achando engraçadinho ver crianças de 1, 2 ou 3 anos beijarem na boca, ao som de frenéticas risadinhas, ou indagações do tipo: "Quem é seu namorado?" As meninas vestem microsaias, ou microshorts, os meninos são estimulados a desejar modelos como Tiazinha, Carla Perez, Feiticeira etc.

A geração anterior era muitas vezes punida e repreendida caso mencionasse ou quisesse saber alguma coisa a respeito da sexualidade. A atual é bombardeada pela estimulação precoce à erotização.

Há os que acreditam que só estão lidando com a sexualidade a partir do momento em que ela é mencionada, seja com a solicitação de informações ou explicações a respeito. Mas onde se inicia então esta relação? Quando a mãe e o pai cuidam do bebê, brincam com este, na maneira como se relacionam com ele, ao mesmo tempo em que o casal vive uma relação afetiva, gratificante ou não, quando os limites de cada papel e relação ficam bem definidos e marcados, quando a criança pode concluir que amar é ou não possível, está recebendo educação sexual.

Quando se pensa em educação sexual na infância, autcmaticamente tem que se pensar, também, em desenvolvimento emocional, isto é, tem que se levar em conta o nível de maturidade e as necessidades emocionais da criança.

É importante que as questões da criança tenham espaço para serem colocadas e respondidas com clareza, simplicidade, na medida em que esta curiosidade vai se dando. Às vezes, alguns pais querem se livrar logo do assunto e na ansiedade disparam a falar além da necessidade da criança, na tentativa muitas vezes frustrada de que nunca mais vão precisar falar sobre o assunto.

Quando uma criança pergunta, por exemplo, como o bebê foi parar na barriga da mãe, não quer dizer que ela queira ou deva saber detalhes com relação ao ato sexual dos pais. Responder à criança de maneira simples, clara e objetiva satisfaz sua curiosidade. A satisfação dessas curiosidades contribui para que o desejo de saber seja impulsionado ao longo da vida, enquanto a não satisfação ou o excesso de informações gera ansiedade e tensão.

Quando a criança pergunta, por exemplo, como o bebê foi parar na barriga da mãe, não quer dizer que ela queira ou deva saber detalhes do ato sexual dos pais. A sexualidade infantil é diferente da sexualidade adulta, não contém os mesmos componentes e interesses. Muitas vezes, pela dramatização, a criança compreende, elabora, vivencia a realidade que vive.

Compreende papéis (mãe, pai, filho, homem, mulher etc.), embora muitas vezes já se perceba menino ou menina e já conheça seus órgãos genitais, experimenta na brincadeira sexos indiferentemente.

Quando as crianças fazem essas perguntas, elas não estão apenas atrás de informações. Eles estão buscando também se habituar com a desagradável idéia de que a mamãe e o papai possam estar fazendo essas coisas na cama.

Um bom método é explicar de maneira simples e honesta o que ocorre durante o ato sexual e parar por aí. Se, e quando a criança quiser saber mais, ela perguntará. Inundar a criança com informações demais pode causar um embaraço angustiado e levar à relutância em fazer perguntas mais tarde.

Nosso século tem assistido a importantes mudanças no que se refere aos padrões de enfoque da sexualidade e dos comportamentos sexuais. As crianças estão, desde cedo, convivendo com estas mudanças na maneira de tratar a sexualidade (entende-se por sexualidade o amor, a afetividade, a relação entre parceiros amorosos, não se restringindo apenas ao ato sexual). Na infância muitos de nós tivemos uma educação sexual confusa, recebemos poucas informações e desenvolvemos assim pouca intimida de com estas questões e até com nosso próprio corpo.

Grande parte dessa mudança de enfoque é devida à divulgação das idéias de Freud, que foi o primeiro a afirmar a existência da sexualidade na infância, correlacionando-a com as fases de desenvolvimento da criança. Suas declarações foram muito contestadas pela sociedade, que relacionava, ainda, a ausência de sexualidade à pureza e à inocência.

Nessa concepção, era virtuoso todo aquele que negasse a satisfação de seus próprios desejos, quando a razão não os autorizava. O exercício da sexualidade, trazendo os prazeres advindos do próprio corpo, enquadrava-se dentro das atividades que a razão não devia autorizar. Freud ousou declarar que todos praticávamos o sexo e que ele estava inserido na natureza humana desde o nascimento, tratando a questão não como um "pecado", mas como causa de sentimento de culpa e, portanto, de danos emocionais.

Freud entendia que a sexualidade na infância desenvolvia-se nas seguintes fases:
Fase oral: até o desmame;
Fase anal/ genital: do desmame até os 6 anos.
Fase de latência: dos 6 aos 10 anos.

Atualmente, admitimos que a sexualidade se manifesta desde o início da vida e que se desenvolve, acompanhando o desenvolvimento geral do indivíduo. A primeira fonte de prazer corporal está na região oral. A amamentação, sem dúvida, deve ser uma fonte de expressivo prazer para o recém-nascido. Com o desenvolvimento e manutenção do sistema nervoso central, e com a gradual aquisição da coordenação motora, a criança se lança à descoberta do corpo e dos prazeres que este lhe proporciona.

O momento do desenvolvimento da sexualidade, que compreende o conhecimento dos órgãos sexuais, coincidindo com a retirada das fraldas, sofre importante interferência da educação repressora. A família se encarrega de comunicar à criança todo o pecado que há nesta parte do corpo e que o prazer desta região não é aceito pelos adultos. O reforço é dado pela vergonha que o adulto demonstra em relação aos seus próprios órgãos genitais.

O desenvolvimento da sexualidade tem como fase seguinte o descobrimento do controle dos esfíncteres. Nessa fase, é novamente exercida a repressão com a demonstração de nojo e desagrado às fezes e a urina. As regras sociais vigentes para as funções fisiológicas de evacuar e urinar sempre foram muito rigorosas. Atualmente, com as constatações científicas de que este comportamento repressivo não é benéfico para a criança, a comunicação oral vem sendo substituída pela comunicação corporal.

Terminado o processo de controle dos esfíncteres, a criança já é capaz de caminhar e de falar. Com a conquista destas capacidades, seu objetivo passa, agora, a ser o de conhecer o ambiente; no campo da sexualidade, fixa se em conhecer o corpo do outro e os prazeres que este outro corpo pode lhe oferecer.

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