sábado, 31 de outubro de 2009

Limites, Chantagem: Consumismo infantil

Durante toda a vida, os desafios do mundo são constantes. Com a educação não é diferente. À medida que a criança vai crescendo, vai ampliando seus contatos, participando ativamente do meio em que vive. Essa participação vai exigindo da criança normas a serem cumpridas, pois espontaneamente a criança delimita um espaço físico para satisfazer suas necessidades, o que nem sempre é aceito pelo adulto, que vai interferir no seu mundo, protegendo-a dos perigos e das coisas frágeis que estão sob sua ação.

As primeiras reações às ordens e interdições são de obediência e devem ser repetidas constantemente, para que a criança perceba o que é possível ou não. Logo no segundo ano de vida, as reações de desagrado e desobediência aumentam. Em cada família, existe um código de regras sobre o que se pode ou não fazer.

Por esta razão, é necessário que a criança consiga aceitar certos limites para que se tome um ser social. Conforme os anos vão passando, estamos sempre buscando um modelo ideal para educar nossas crianças. A realidade atual tem mostrado que a conscientização de pais e filhos, no que diz respeito ao limite, diverge em muitos sentidos. Não é para menos, pois algumas décadas atrás a criança era tratada como um ser que necessitava ser civilizado.

A educação era rígida e o poder absoluto estava na figura do pai, a quem a criança devia total obediência, sem qualquer tipo de questionamento. Raramente o pai demonstrava amor pela criança. Depois veio a liberdade de expressão, os valores se viram ameaçados diante de tanta permissividade. A geração que teve uma educação rígida optou por criar os filhos livres de qualquer opressão.

A noção do limite foi esquecida e a sociedade atual se depara com jovens inseguros, totalmente despreparados para um mundo onde o mercado de trabalho busca jovens eficientes, audaciosos, seguros do que querem. Os anos 90 mostraram que cada vez mais os pais querem encontrar o equilíbrio entre autoridade e liberdade. Desejam estimular os filhos de maneira que saibam se virar no mundo, sem se esquecer do respeito ao limite.

É comum ouvirmos depoimentos de pais de adolescentes que questionam a educação recebida e tentam oferecer aos filhos o resultado encontrado entre a educação autoritária dos avós e a liberal que tiveram dos pais, para que a próxima geração possa crescer num ambiente diferente, com respeito, coerência e harmonia.

As regras sobre o que se pode ou não fazer são cada vez mais utilizadas pelos pais. O diálogo esclarecedor e o bom senso vêm ocupando espaços significativos, unidos à compreensão, ao amor e ao carinho. Aprender a dizer não, sem ficar se culpando, não é tarefa fácil para quem está acostumado a sempre ceder. Geralmente, cedemos desde que a criança é um bebê. Ao menor sinal de desconforto, estamos lá totalmente à disposição da criança, realizando tudo e mais um pouco, além do que ela necessita.

Se quer dormir na cama dos pais, a princípio negamos, depois acabamos permitindo e assim a criança vai Conseguindo seus objetivos. Quando dizemos não, é um verdadeiro desastre, com birras, choros, chantagem etc.

Surge então a famosa culpa. Os pais acham que a criança pode ficar doente, receiam a imposição da autoridade a qual têm direito, criando-a totalmente sem limites. Quando a criança ingressa na escola, geralmente Os problemas de ordem emocional aparecem. Afinal de contas, ela podia tudo, tinha tudo, mandava em tudo. Na escola, ela deve aprender a dividir tudo, tudo é de todos e as regras são estabelecidas por todos. Logo, o caos é geral.

A escola então precisa realizar um trabalho de conscientização com toda a família, esclarecendo e gradativamente introduzindo noções de limites; Isso quando os pais não tiram a criança da escola, pois alguns acreditam que a escola não se adaptou ao jeitinho de ser da criança. Na maioria das vezes, esse julgamento precipitado retarda o trabalho que pode ser iniciado tão logo o educador ou responsáveis percebam que o desempenho e o comportamento da criança diferem do esperado.

É comum nos depararmos numa negociação com os filhos em troca de algo. Até nos casos em que a criança está em adaptação escolar, costumamos presenciar os pais Inocentemente recompensando os filhos por terem permanecido na escola. O que fazer diante dessas situações de constantes promessas em troca de presentes, recompensas ou guloseimas?

Algumas crianças abusam da manha para conseguir o que desejam: fazem escândalos, choram, jogam-se ao chão, arremessam objetos longe etc. A criança aprende depressa que a chantagem é uma aliada muito eficaz.

Quando os pais toleram o não cumprimento das regras e normas, a educação tende a seguir por um caminho muito perigoso, às vezes irreversível. Os anos 90 mostraram que cada vez mais os pais querem encontrar o equilíbrio entre autoridade e liberdade.

Chantagens para que a criança se alimente, tome banho, vista o uniforme etc. em troca de doces ou presentes geralmente começam em casa. Por esta razão, os pais devem permanecer "sempre alertas" para não incentivar essas condutas. Pais que não agüentam ver uma carinha triste, julgando que a criança está sofrendo, perdem a noção do que é melhor para a criança.

Mais uma vez o limite precisa ficar bem esclarecido, como nesse exemplo: o alimento é necessário para a saúde e quem não se alimentar poderá ficar doente (não simplesmente almoçar em troca de um programa de TV).

Diante da satisfação de todas suas vontades, a criança chantagista pede cada vez mais... A relação com os pais, na base de trocas, torna-se um vício. Dependendo da intensidade e do tipo de relacionamento que os pais mantêm com os filhos, "combinações" para determinadas situações são saudáveis e não causam danos sérios: se você terminar de arrumar o quarto, daremos uma volta pelo parque (é importante cumprir).

Caso contrário, podemos encontrar no futuro crianças com dificuldades para se adaptar a regras, leis e valores da sociedade. A convivência com os amigos torna-se insuportável, pois convenhamos que não é fácil interagir com um chantagista que não aprendeu a conviver com a frustração.
O melhor caminho é sempre o esclarecimento de determinadas situações desde que a criança é bem pequena (diálogo), pois assim ela cresce num ambiente seguro, real e consciente de que um NÃO, dito com firmeza, mas com amor e carinho, é ideal para o seu desenvolvimento e para despertar o senso de responsabilidade e o exercício da cidadania.

Mas devemos sempre nos lembrar dos excessos de nãos. Se só há proibições no mundo da criança, ela não dará nenhuma atenção a elas. É necessário estabelecer as prioridades tratando de um aspecto de cada vez. É importante deixar claro para a criança tudo o que se refere a riscos ou alertar para ações que podem causar danos materiais. Conflitos associados à comida e à escolha de roupas muitas vezes não valem o esforço.

A criança, quando está cansada, não responderá às expectativas dos pais com relação à disciplina. Os pais certamente obterão sucesso se suprirem a necessidade momentânea da criança, dando-lhe um abraço, permitindo que ela durma, recupere as energias lanchando. Poderão tentar um novo diálogo mais tarde. Nessas situações, os pais também podem estar cansados e certamente não conseguirão ensinar nada de produtivo à criança.

A calma precisa falar mais alto, pois a criança logo entende, pela expressão facial, tom de voz e reações, que os pais estão perdendo o controle. Ambos poderão assustar-se diante de reações exageradas, provavelmente se arrependendo do que disseram ou fizeram.

Às vezes os pais esperam demais de seus filhos, dando instruções muito genéricas, exigindo comportamentos que não significam muito: "seja bonzinho", "comporte-se". Esses pedidos são muito complicados para a criança.

Pouquíssimas crianças entendem o que quer dizer "arrume o quarto". Crianças reagem melhor quando somos específicos sobre o que desejamos delas e utilizamos frases que deixam claro o que necessitamos. Assim estimulamos a criança a concluir a tarefa com sucesso: "Pare de gritar", "Leonardo, esse carrinho é do Lucas, devolva para ele", "guarde os brinquedos", "coloque o pijama no cesto".

Conflitos por controle são comuns e normais, mais é importante estimular a independência da criança, que se sente mais segura quando conhece seus limites. Por outro lado, torna-se ansiosa se as regras mudam ou pare cem ser negociáveis.

Sabemos que a mídia tem poder de influenciar as pessoas, principalmente as crianças. Os lançamentos de produtos infantis veiculados na TV, especialmente em datas como Páscoa, férias, Dia das Crianças e Natal exercem atração exagerada nos pequenos. Não é nada tranqüilo educar crianças neste século!

Conhecer os limites que a vida naturalmente nos impõe é fundamental para criança. Assim ela entende que o consumismo infantil é uma epidemia difícil de ser combatida. Em nossa sociedade o TER foi sendo valorizado de tal maneira que são poucas as famílias que conseguem fugir da febre do consumismo. Os pais saem para dar uma volta no shopping e de repente são surpreendidos pelos filhos puxando-os pelas mãos ou pelas calças, desejando guloseimas, tênis importados, bonecas, DVDS, aparelhos eletrônicos e mais uma infinidade de produtos.

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