quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Sexualidade Infantil _ parte II

Neste estágio do desenvolvimento psicossexual, a criança inicia o relacionamento interpessoal com outras crianças. A fase de descoberta do corpo do outro inclui a curiosidade pelo corpo da mãe e do pai. Tem início a socialização sexual da criança e esta etapa ocorre até o início da puberdade. No período da exibição e das perguntas sobre o sexo, as atenções da família estão voltadas para o aprendizado do autocontrole. Assim, a criança aprende que os assuntos relacionados aos prazeres do exercício da sexualidade, na maioria das vezes, não podem ser tratados com os pais, claro com raríssimas exceções.

Segundo o prof. Dr. Nelson 'vittielo "Os jogos sexuais são de grande importância no processo de desenvolvimento da criança, como facilitadores da exploração do ambiente e da união entre as crianças. São, ainda, de grande valia por favorecerem o desenvolvimento cognitivo, permitirem a prática dos papéis sexuais e possibilitarem o manejo dos conflitos e das ansiedades, envolvendo o corpo como um todo, mas a preocupação das instituições responsáveis pela educação da criança (família e escola) está centrada nas manifestações genitais da sexualidade; por isso, apenas as atividades diretamente relacionadas aos órgãos genitais são alvo de repressão.

A criança tem, assim, reforçada a idéia de que estes órgãos não merecem mesmo valorização nem respeito. Além disso, nessa idade, as normas que delimitam os papéis sexuais deixam de ser apresentadas explicitamente às crianças, embora seu cumprimento passe a ser exigido como forma de comportamento educado. A repressão aos jogos sexuais implica forte sensação de culpa. Apesar de a criança ainda não ter capacidade de compreender bem o seu real significado.

Algumas crianças, principalmente do sexo feminino, por serem mais retraídas e medrosas, não ousam experimentar os jogos sexuais, apresentando, por isso, uma falha no desenvolvimento de sua sexualidade. A criança do sexo feminino habitualmente vivencia o desenvolvimento de sua sexualidade com maiores conflitos, pois a repressão é maior sobre elas. Além disso, a educação para um papel sexual 'adequado' exige uma postura de aceitação e de obediência, o que inviabiliza as práticas clandestinas de jogos sexuais. Mesmo que prazerosas, as experiências de exploração do prazer desencadeiam culpa e sensação de imoralidade tão conflituosas que a criança faz um bloqueio destas lembranças para amenizar seu sofrimento."

Embora a família seja a estrutura social ideal para a prática da educação em geral, e da educação sexual em especial, parece-nos que ainda estamos muito distantes da situação em que esse processo educativo aconteça em boas condições, pela falta de preparo da maioria das famílias.

Da mesma forma que as crianças aprendem a andar, falar etc. elas vão aprendendo sobre seu corpo. Esta aprendizagem sobre o próprio corpo e o corpo das outras pessoas, sobre as sensações de carinho, prazer ou desprazer marcam profundamente a criança. Com essas experiências é que ela vai construindo uma imagem sobre si mesma, seu físico, sua auto-estima e vai se percebendo menino ou menina.

Se você é mãe, avó, tia (a irmã da mãe ou do pai) educador e pesquisador, com certeza já se viu envolvido (a) em questões bem embaraçosas ao tentar esclarecer as mais diversas dúvidas dos nossos pequenos. Recentemente minha filha de seis anos (Larissa) me perguntou sobre a Aids.

Como se pegava essa doença? Questionei-a da seguinte forma: Onde você ouviu sobre Aids? Ela esclareceu que estava vendo o comercial de um dos episódios da novela do SBT "Amigas e Rivais" que iria ao ar, no qual uma amiga comentava com outra, de maneira bem preconceituosa, que determinada pessoa era portadora da Aids. É evidente que ela não disse com essas palavras que o preconceito se fazia ali presente, mas foi fácil perceber, quando ela disse que a amiga sussurrou no ouvido da outra: "Ela tem Aids!"

Eu disse: "Filha, a Aids é uma doença contagiosa (ela já havia perguntado o que era contagiosa). Por esta razão que as pessoas costumam falar baixinho sobre esse assunto, quando sabem que uma pessoa tem Aids. Eu acho que elas pensam que quando falam baixinho, vão conseguir conviver melhor, acreditando que não estão magoando quem está com a doença.

Mas essa forma de agir só deixa mais tristes as pessoas. Você sabe que o nosso corpo humano tem sangue, não é mesmo? A pessoa que adquiriu Aids e que fica doente, também fica com o sangue doente."

"É como se eu ficasse muito resfriada, com febre, dengue e dor de cabeça, imagine como o corpo da mamãe ficaria com tudo isso junto?" "Podre de tanta doença junto, né mãe?" Foi o que ela respondeu.

"Então filha... agora, imagine que o papai precisasse de sangue e só teria duas pessoas para doar sangue para ele: Mayre (esposa) e Larissa (filha). Que sangue estaria melhor para ele receber, o meu ou o seu?" "O meu, mas eu tenho medo de ser picada! "

"Tudo bem, mas por que o seu seria melhor?" "Porque eu não estou doente e o papai pode usar o meu." "Então você conseguiu entender que a Aids é uma doença que, além de deixar o nosso sangue doente, deixa a pessoa fraca, necessitando de um acompanhamento médico. Mas essa doença não pega só de falar com as pessoas, o contágio só vai acontecer se a pessoa que estiver com o sangue doente por acaso se cortar e o sangue dela entrar num ferimento de alguém que esteja bem, se ela doar o sangue dela..." e fui concluindo por aí. "Entendeu?" perguntei.
"Tudinho, mãe. " Será que eu dei a explicação certa?

Não sei. O que verdadeiramente sei é que eu não fugi da responsabilidade de tentar responder e de passar para ela fatos que são verdadeiros (sem os termos técnicos) para que ela não ficasse com dúvidas. Eu acredito que agindo assim consigo participar e acompanhar mais de perto os pontos de interrogação que certamente rodeiam nossas crianças.

Lidar com a sexualidade das crianças, confesso, não é tarefa fácil, mas fingir que nada acontece contribui para conflitos futuros.

É muito importante informar para a criança o que está acontecendo com seu corpo e com seu mundo. A escola pode ajudar muito neste momento, tendo um papel fundamental na educação e socialização de seus alunos.

Juntos, pais e escola poderão favorecer este processo para a criança, fazendo com que seu conhecimento fique mais completo e integral. Se a escola e os pais dão uma oportunidade à criança de ser bem informada sobre esses temas, sem tabus, preconceitos e medos, isso resultará em escolhas mais sensatas, relacionamentos mais duráveis e afetivos, prevenção de doenças, respeito, percepção corporal como algo integrado, e que o corpo deve ser amado e respeitado.

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