sábado, 10 de outubro de 2009

A Separação dos Pais

Seria a separação entre casais um problema? Realmente, eu acredito que não. A maneira, os valores, a preocupação que o casal tem em administrar a vida a dois e, conseqüentemente, os filhos que chegam para solidificar um relacionamento, tudo isso é a base fundamental para que não ocorra a separação. Mas, se ao contrário, a união é conturbada, sem respeito, sem regras de boa convivência, com constantes conflitos, ciúmes, infidelidade, sobrecarga de funções somente para um, ausência das necessidades básicas para o casal e para os filhos, a separação se torna até uma solução.

Não queremos aqui levantar a bandeira ideológica de que um casal deve separar-se. O casal deve sim, pensar, quantas vezes forem necessárias, para assumir o compromisso do casamento e de ter sob sua responsabilidade a educação de uma criança. Costumamos ver crianças sofrendo muito, inclusive com depressão, por conta de um casamento desestruturado, no qual o adulto só pensa em si, esquecendo que, da união, nasceu alguém que precisa ter todas as necessidades atendidas. Presenciamos também filhos de pais separados desenvolvendo-se em perfeita harmonia com os pais, com as pessoas e com o mundo.


Portanto, o mínimo que o casal deve fazer é poupar a criança de sentimentos confusos, com os quais ela não está preparada para lidar. Um casamento que aparentemente deu certo, em que o casal mantém constante diálogo familiar, com respeito mútuo, pode ter, em determinadas fases, filhos com dificuldades de relacionamento, insegurança, rebeldia, agressividade, falta de limites etc.

Então, resta a pergunta: O que acontece com a separação? Acontece que, na maioria das vezes, ela não foi bem resolvida, questões primordiais ficaram pendentes, a criança está sendo envolvida mais do que deveria. Só pelo fato de ser filha do casal a envolve, mas os pais costumam usar a criança como peça de um jogo do qual ela não pode fazer parte. O casal, admitindo que a união não deve mais existir, tem que ser consciente de que o relacionamento não deu certo e por esta razão optaram por separar-se. Não podem ficar bombardeando a criança com as possíveis falhas de cada um.

A criança que gosta dos pais às vezes sente-se até culpada por amá-los, pois quando está com o pai, não consegue desfrutar de momentos simples e de brincadeiras sadias, porque precisa responder a um interrogatório sem fim sobre a mãe. Quando permanece com a mãe, ouve comentários desagradáveis sobre o pai, o que gera na criança dúvidas, insegurança, desespero, angústia, solidão e até depressão: Por que o pai só vem buscá-la no final de semana? Por que o pai de sua melhor amiga mora na mesma casa que ela? Por que eu fiquei com a minha mãe e não com meu pai? Por que será que quando meu pai está comigo permite tudo e minha mãe não? A mãe conta sua história, o pai a versão dele.

A criança não é culpada pelo relacionamento não atingir às expectativas. Portanto, o mínimo que o casal deve fazer é poupar a criança de sentimentos confusos, com os quais ela não está preparada para lidar.É comum o pai (ou mãe) permitir e realizar, num final de semana, tudo o que a criança gostaria de ter feito na semana. Como o tempo é curto, age de maneira inadequada com a criança, prejudicando sua educação.

Até nessas questões, o casal deve permanecer atento, dialogar, para definir o que será ou não permitido. A criança que permanece mais tempo com um dos cônjuges, respeitando regras, dormindo no horário adequado, não faltando às aulas, escovando dentes após as refeições, controlando alimentos como chocolates, doces e chicletes acredita que o que permite mais é melhor ou gosta mais da dela.

Quando acaba o final de semana, acontecem situações de conflito, porque toda educação da semana fica desestruturada em apenas dois dias. É necessário um esforço muito grande para que a criança retorne à rotina. Tudo isso pode e deve ser evitado pelos pais conscientes de sua responsabilidade, que devem dialogar sempre, buscando informações sobre como a criança passou durante a semana, se está sendo medicada, se pode tomar sol, sorvete etc.

Quem fica com a criança no final de semana deverá dar continuidade à rotina da semana, claro que com as exceções naturais que acontecem em qualquer sábado, domingo ou feriado.
Se a criança estuda, ambos devem comparecer em reuniões, datas comemorativas e eventos que contribuam para a formação e desenvolvimento dela. Quem irá comparecer à escola não é o ex-marido ou a ex-esposa, mas sim os pais da criança que, conscientes de suas obrigações, precisam ter o mínimo de respeito para juntos obterem informações ou participarem das experiências adquiridas no ambiente escolar.

O melhor que os pais podem fazer é continuar sendo pais e não mais marido e mulher. Eles podem não ter tido êxito no casamento, mas poderão ser bem sucedidos no desempenho do verdadeiro papel de pai e mãe.

O comportamento da criança é, basicamente, afetivo e irracional. Ela sente as coisas e não pensa sobre elas. A personalidade externa ainda não está plenamente integrada; o amor primitivo tem uma finalidade destrutiva, e a criança não aprendeu ainda a tolerar e dominar seus instintos. Ela poderá controlar tudo isso e muito mais se o ambiente for estável, pois precisa viver num círculo de amor, força e estabilidade. O bom exemplo já é meio caminho para a felicidade da futura vida conjugal da criança. É importante que os pais saibam mostrar à criança que continuam amigos e a separação não os impede de amarem cada vez mais o filho.

Vale registrar também aqui a separação por morte e também a questão particular das mães solteiras.

Ter um filho como produção independente é um assunto polêmico por natureza. Nosso objetivo não é julgar ou condenar essa opção. Temos sim a responsabilidade de sugerir a melhor maneira de esclarecer à criança os fatos reais de sua vida. Já vivenciamos situações em que a criança tinha quatro anos (primeiro ano na escola) e a mãe nunca havia falado sobre o assunto PAI. Quando questionada sobre o que falaria a seu filho na festa do Dia dos Pais, a mãe confessou: "não sei o que dizer nem como tocar nesse assunto!"

Casos como esse colocam a escola em uma situação muito delicada, pois o educador precisa sempre agir com muita cautela. Nem sempre a mãe está preparada para contar toda a verdade à criança, por uma série de razões que entendemos, mas que, acreditamos, não justifica a omissão.
No caso específico, sugerimos que a verdade fosse esclarecida da maneira mais simples possível.

A partir da revelação, a mãe deveria responder somente as dúvidas da criança. Ex.: "Filha, hoje eu vou lhe contar um segredo: algum tempo atrás, a mamãe conheceu uma pessoa (falar o nome dele) e com ela manteve um relacionamento. Durante esse relacionamento, a mamãe ficou grávida, mas a relação, o diálogo ou a nossa união já não estava dando tão certo, como imaginávamos que seria.

Portanto, a mamãe optou por cuidar de você sozinha e nunca mais viu essa pessoa que é o seu pai... Você está entendendo o que eu estou lhe dizendo? Quer perguntar alguma coisa sobre ele?" Estender o assunto, justificando passo a passo o porquê de ter ocultado a verdade, não vai aliviar os possíveis sentimentos confusos que a criança apresentará.

Ter paciência e aguardar um bombardeio de perguntas que provavelmente irá acontecer é um fato que deve ser encarado com muita naturalidade. Não se desvie do assunto quando a criança desejar respostas, que evidentemente você só as dará se souber. De preferência, pare tudo o que estiver fazendo, olhe nos olhos da criança e converse com ela esclarecendo que algumas questões poderão ficar sem respostas. Ex.: "Onde está o meu pai agora?" "Qual o endereço dele?"

Se a mãe optou por uma produção independente ou simplesmente perdeu o contato com o pai da criança há muito tempo, não conseguirá aliviar, a princípio, o sentimento de insegurança que a ausência de resposta causará. Também não é hora para culpas e desesperos (Por que eu não falei antes? Ah! se eu soubesse...).

Diga à criança: "A mamãe não sabe onde o seu pai está agora, nem sei o endereço dele. Quando a nossa união não deu certo ou quando a mamãe decidiu tomar conta de você, a mamãe já sabia que não teria o endereço do seu pai. A mamãe não brigou com ele, a mamãe só quis cuidar de você sozinha. Você está triste por isso?

Você quer falar alguma coisa para a mamãe? Você quer chorar?"

Se você estava consciente de que a produção independente era o que você queria, não dê a impressão à criança de que existiu algo mais, que tudo era maravilhoso. A VERDADE SEMPRE, por mais dura que possa parecer, é o melhor. Claro que aspectos como entonação de voz, o momento e o Iugar são primordiais para evitarmos qualquer trauma. Não é hora para falar sobre particularidades do pai, principalmente se não forem positivas. Afirmações do tipo "Deixei ele mesmo, porque me tratava mal" não vão contribuir para a maturidade da criança. O alívio, a sensação de bem-estar provocada pelo esclarecimento da verdade só vai fazer bem.

E quanto mais cedo melhor, porque a criança cresce sabendo da verdade e sabe que a mãe foi verdadeira. À medida que se desenvolve, as perguntas sobre o assunto poderão ser cada vez mais elaboradas, mas nunca carregadas de um sentimento de desconfiança, de cobrança. Em roda com os amigos, a questão PAI provavelmente fluirá de forma mais tranqüila e segura.
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Aurélio Bolsanello (médico e psicólogo) afirma: "A idade da criança, na época em que o pai ou a mãe se ausentam do lar, é importante. As fixações, liquidações e identificações pelas quais a criança precisa passar, e que constituem etapas necessárias para o desenvolvimento de sua personalidade, estão intimamente vinculadas às figuras parentais, ou seja, os pais.

O desaparecimento do pai é menos grave nos primeiros anos e mais nocivo a partir dos dois anos de idade, pois o sentimento da criança em relação ao pai constitui ingrediente necessário às forças complexas que contribuem à formação de seu caráter e de sua personalidade. Assim como a mãe representa na família o amor, o pai é para a criança o protótipo da autoridade. As crianças sentem se mais seguras, protegidas e, portanto, mais felizes quando submetidas a uma autoridade, baseada logicamente na justiça."

A mãe que cria o filho sozinha incorre geralmente num desses extremos: ou mima
exageradamente, tentando compensá-lo pela perda do pai, ou age com severidade excessiva para substituir o pai ausente. Nenhum dos dois extremos é bom, pois se a autoridade é exercida com demasiada brandura, dificilmente a criança poderá aprender a ter o comportamento e a seguir as normas de conduta que a sociedade exige ou espera.

Aquele que foi sufocado por excesso de autoridade geralmente reage com rancor, hostilidade e revolta, ou com extrema docilidade e submissão. Temos ainda a ausência de identificação, pois é necessário oferecer ao filho uma imagem para que possa aceitar plenamente a virilidade que o pai simboliza. Na ausência real do pai, um ou outro familiar, professor, ou figura representativa do sexo masculino poderá ajudar bastante. A criança que pertence a um lar que foi "destruído" se sente diferente, objeto de curiosidade e alvo de comentários de outras crianças, sempre curiosas por essa realidade.

Se a criança vier a ouvir da mãe ou de outra pessoa da família que o pai não gostava dela e que por isso a abandonou, aos poucos adquirirá sentimentos de inferioridade, acreditando que é por seu pouco valor que o pai se separou da mãe.

Se a mãe, tentando amenizar o "problema", alegar que se separou do esposo porque não se davam bem, a criança poderá desenvolver um sentimento de angústia e pensar que se ela não se comportar de acordo com as expectativas da mãe, esta poderá abandoná-la, assim como fez com o pai.

Quando a separação ocorre pouco depois do filho nascer, este poderá pensar que os pais se separaram por sua causa, podendo desenvolver sentimento de culpa e até comportamento agressivo. A mãe ou o pai tem obrigação de esclarecer, da maneira mais neutra e menos traumática possível, os verdadeiros motivos da separação.

Em maio de 1998, uma edição especial sobre o divórcio da revista Veja consultou alguns profissionais sobre o assunto. Eles esclareceram que, para crianças surpreendidas por uma notícia inesperada, o fim do casamento dos pais representa um dos períodos mais difíceis de suas vidas, mesmo que esta tenha sido a melhor solução para desavenças incontornáveis.

Os filhos passam a conviver sem a presença constante de um dos pais (normalmente o pai) e têm de lidar com situações desconhecidas e muitas vezes traumáticas, como ter duas casas para dormir, trocar de escola, amigos, mudar de bairro etc. Podem ainda ser submetidos a uma nova provação: adaptar-se a uma nova família. Fica cada vez mais comum morar com mãe e padrasto, pai e madrasta e meio-irmãos. Pelas características, essas novas famílias são chamadas por psicólogos e psiquiatras de famílias mosaicos ou reconstituídas.

Eles acreditam que elas são um grande avanço, pois são relações familiares mais honestas, porém, ainda permanecem intrigados sobre até que ponto esse tipo de família interfere na formação das crianças.

Alguns profissionais observam que a separação é sempre muito arriscada. "Até os cinco anos de idade, a criança pode sofrer com a separação, porque fica muito dependente e estabelece trocas somente com figuras próximas" - diz o psiquiatra infantil Alfredo Castro Neto, do Rio de Janeiro. Outros lembram que as novas uniões podem ser muito úteis para compensar os efeitos da separação. "Nas famílias reconstituídas, predomina a solidariedade entre os filhos por causa dos problemas semelhantes vividos e da idade geracional", afirma o psiquiatra Antônio Mourão Cavalcante, do Ceará.

Na verdade, não se pode concluir nada em definitivo sobre um tema tão complexo como esse. O estresse da separação faz com que os primeiros anos dessas novas famílias sejam os mais conturbados, pois pode acontecer de as crianças se tornarem menos amáveis, desorientadas, inibidas, um pouco agressivas, com conflitos de ordem emocional e /ou educacional.

As atitudes ou respostas que elas darão a essa nova situação, superando-a ou não, dependem da harmonia e qualidade da relação que manterão com os pais e da habilidade de que os pais precisarão para lidar com as inseguranças e "dificuldades" dos filhos.

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