segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O Jogo

Quando uma criança inicia a fase de "engatinhar", ela está experimentando, jogando com a relação entre seu corpo e o ambiente em que está situada. Jogando-se no espaço, interagindo com esse ambiente, a criança passa por todos os riscos do movimento. Levantar, girar, correr, andar são atos que promovem a descoberta do benefício da expressão pessoal.

Ao jogar, a criança explora o mundo e se descobre: olhando, cheirando, tocando, ouvindo ou degustando, a criança mantém contato com o mundo através dos sentidos. A criança, em suas brincadeiras de faz-de-conta, alcança pleno domínio da situação, vivendo e convivendo com realidade e fantasia, sendo capaz de passar de uma para outra.

Elaborando seus anseios e fantasias ao brincar, a brincadeira vai evoluindo, deixando de ser espontânea para tornar-se um jogo com regras definidas, ou seja, o jogar e o brincar sofrem influência da cultura e do controle social.

A característica essencial do jogo refere-se ao jogar como experiência e sempre como uma experiência criativa e construtiva. É no jogar que a criança alcança a liberdade de criação, ou seja, a criança utiliza sua personalidade integral e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu. O jogo também revela uma característica transformadora intrínseca, pois quanto melhor a capacidade do indivíduo para jogar, mais próximo está ele de sua saúde mental. Brincando e jogando, a criança expressa toda sua espontaneidade.

O brinquedo é o objeto real ou imaginário que antecipa os dados da realidade. O brinquedo possibilita algo além de divertimento, entretenimento ou descarga de energia.
Representa fonte de conhecimento, de satisfação e um acesso ao imaginário. O jogo é uma resposta ativa de impressões passivas que a criança tem diante da realidade cotidiana. Quando a criança tem medo de algo, pode enfrentar o problema criando situações de controle. A criança procura adquirir o controle da realidade pela imitação e pela repetição.

Dessa maneira, a realidade é assimilada e reconhecida. A criança que brinca experimenta, constrói com o brinquedo. Ela aprende a dominar sentimentos de angústia, a conhecer seu corpo, a fazer representações do exterior e progressivamente a agir sobre ele, controlando os próprios limites. O brinquedo envolve um trabalho de construção e criação. Fazendo uso da imitação, a criança constrói a base para a integração da realidade em si mesma.

Para compreendermos o significado de tudo o que acontece ao nosso redor, é preciso montarmos um quebra-cabeça, montando e remontado cenas. O jogo e a brincadeira são as formas mais indicadas para lidar com a realidade, pois permitem ensaiar papéis, realizar infinitas simulações que partem da observação. Jogando, a criança diminui sua ansiedade por não poder controlar as situações da vida real. O prazer e a segurança crescem quando a criança se sente cada vez mais segura para enfrentar as dificuldades que estão por vir.

Jogando bola, simulando ser um super-herói, pintando, recortando, colando papéis, a criança sente-se à vontade, desfruta de uma linguagem própria, que lhe é familiar, e desenvolve a espontaneidade e a criatividade.

O prazer desperta a motivação, que por sua vez promove novos relacionamentos, mexendo internamente em tudo que estava adormecido. Isso só acontece se a disposição interna estiver integrada às dinâmicas das forças do meio ambiente e do meio social. O jogo é uma atividade integradora, de aspectos internos e externos que irão complementar as vivências de cada um. As experiências confirmam que jogando,

. Ansiamos diferentes situações, como por exemplo:
. Movimentos de andar, correr, lutar, pesquisar:
. Adquirir a segurança que os experientes nos passam, para que possamos aprender de uma forma tranqüila, sem a preocupação de um pré-julgamento;
. Vontade de sermos reconhecidos socialmente pela cooperação, amizade, personalidade e interação com os demais;
. Vontade de participar e/ou pertencer a diferentes grupos sociais;
. Vontade de adquirir harmonia e equilíbrio diante de diferentes situações do dia-a-dia.

O jogo ocorre em espaços e tempos determinados. A atividade lúdica remete-nos diretamente à imitação espontânea que parece natural à criança pequena. Brincar é uma expressão de contato imediato e espontâneo com o mundo real e imaginário. O jogo entre esses dois níveis permanece como possibilidade para toda a vida. Mas há diferenças entre as possibilidades do jogo, principalmente quando pensamos na educação.

Quando a mãe brinca com seu filho espontaneamente, não há pretensão de chegar a um objetivo específico, ainda que vários aspectos importantes estejam sendo trabalhados. Com a educação o jogo pode ser livre de regras e/ou servir apenas para relaxar, ou seja, substituir a atividade com determinadas obrigações pela improvisação de atividades livres. Assim, o prazer é conquistado porque há um desbloqueio das capacidades espontâneas, a criança estará realizando com os demais colegas a recreação.

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