domingo, 24 de janeiro de 2010

Função da brincadeira no desenvolvimento infantil - parte 1

(segundo a pedagoga Márcia Maria Kaschttk )

O jogo e a brincadeira são as formas mais indicadas para lidar com a realidade, pois permitem ensaiar papéis, realizar infinitas simulações que partem da observação.

De acordo com Piaget, apud Rosa e Nisio (1998, p.39) "os jogos e as atividades lúdicas tornam o mais significativas à medida que a criança se desenvolve; com a livre manipulação de materiais variados, ela passa a reconstituir, reinventar as coisas, o que já exige uma adaptação mais completa. Essa adaptação só é possível a partir do momento em que ela própria evolui internamente, transformando essas atividades, que são o concreto da vida dela, em linguagem escrita, que é o abstrato".

É inegável que a "brincadeira" é a atividade primordial na infância. A situação lúdica que se instaura ganha caráter de "orientação", ou seja, de facilitação de tarefas objetivadas pelo professor, sem que se questione sobre a forma singular do jogo e sobre qual é realmente o objetivo deste.

A brincadeira é uma forma de a criança constituir-se como indivíduo, formulando e compartilhando significados.

Na perspectiva sociocultural, brincar traduz a forma como as crianças interpretam e assimilam o mundo, os objetos, a cultura, as relações e os afetos das pessoas. É uma maneira de conhecer o mundo adulto sem adentrá-Io realmente.

Brincar é uma forma de atividade social infantil, cujo aspecto imaginativo e diverso do significado cotidiano da vida fornece oportunidade educativa para as crianças.

"De acordo com Vygotsky, através do brinquedo, a criança aprende a atuar numa esfera cognitiva que depende de motivação interna... a criança poderá utilizar materiais que servirão para representar uma realidade ausente..." (Rego, 1996, p. 819).

Vale ressaltar que os valores podem ser internalizados pela criança por meio da brincadeira, na medida em que está em contato com os valores em sua vida diária.

Neste contexto, percebe-se nitidamente a importância das atividades lúdicas no processo de alfabetização.

À medida que a criança utiliza-se da brincadeira, do lúdico, ela interage com o outro, com o objeto e consigo mesma, desenvolvendo a linguagem, função esta que organiza todos os processos mentais da criança, dando forma ao pensamento.

É muito importante desenvolver no processo de alfabetização o fator linguagem, mesmo antes de passar para a escrita, que já é uma linguagem estruturada, pois a criança desenvolve seu potencial de criação imaginária e o lúdico tem com certeza um papel primordial nesse processo.
Jogar é um desafio e a incerteza diante do novo, do desconhecido, fez com que a sociedade definisse normas para os jogos já existentes, regulamentando-os.

Quando o educador faz uso do jogo com regras, este é formalizado de acordo com os objetivos que se pretende alcançar: estimular a cooperação, melhorar o desempenho, enfrentar a timidez, aprender algo definido etc.

Quando propomos um jogo, estamos penetrando numa zona desconhecida, pois ao jogar produzimos inevitavelmente algo novo, criamos regras, adaptamos as já existentes de acordo com a realidade, com os objetivos, com os sentimentos. Jogar é um desafio e a incerteza diante do novo, do desconhecido, fez com que a sociedade definisse normas para os jogos já existentes, regulamentando-os.

Por exemplo: quando há insegurança e um grupo necessita de apoio afetivo, pois teme reações desconhecidas, é natural a preferência ou sugestões por jogos bem definidos, com regras claras. E isso acontece com crianças pequenas, que, quando vão jogar com um adulto, sentem-se ameaçadas e costumam dizer: "mas tem que jogar do meu jeito". O brincar não tem regras, embora gradativamente se organize com o tempo e a experiência.

A brincadeira infantil traz em si as potencialidades que irão se desenvolver na vida adulta. Assim, a criança expressa seus impulsos, suas motivações, seus desejos, seus pensamentos com a criação espontânea a partir de recursos corporais, lingüísticos e simbólicos para a comunicação.

Nos jogos de faz-de-conta, a criança se identifica com os personagens, simulando novos acontecimentos, inventando papéis, imitando situações, relacionando fatos e reproduzindo os comportamentos dos adultos. Na tentativa de aprender a linguagem dos adultos, recorre ao jogo imaginário, imitando papéis sociais.

Repete frases com as inflexões dos pais, imita gestos característicos de educadoras, comporta-se como os ídolos que admira. Esse esforço para representar estimula a descoberta de um mundo de novos conhecimentos, principalmente no que diz respeito à linguagem, contribuindo para um vocabulário rico e uma assimilação crítica da realidade.

Quando abordamos a assimilação crítica da realidade, não podemos nos esquecer da televisão. Seria ela uma fonte geradora de jogos? Estaria a televisão fornecendo informações de maneira adequada?

Nenhum comentário:

Postar um comentário