sábado, 13 de fevereiro de 2010

Objeto transicional e amigo imaginário - parte 2

Winnicott divide o desenvolvimento da criança em duas etapas:


Etapa 1

Relação de objeto

Essa relação é descrita em termos de experiência do sujeito como ser isolado. Sujeito e objeto são fundidos em um só. O objeto é fruto de projeções e identificações, não existe como algo externo e independente. Com os mecanismos de identificações, o sujeito encontra algo no seu objeto. É bem provável existir alteração no seu eu (sefl. O objeto está sob seu controle onipotente. O ato de se relacionar com o objeto pode ser com um objeto subjetivo, não tendo que ser pertencente à realidade externa, como no uso do objeto.

A realidade externa não importa. Nessa fase, tudo gira em torno do sujeito e do seu mundo de prazer. "O bebê cria o objeto, mas o objeto estava à espera de ser criado e de se tornar um objeto catequizado". (Winnicott)


Etapa 2

Uso de objeto

No uso do objeto, a natureza e o seu comportamento são incluídos. O objeto tem que ser real e existe independente do sujeito. Para que o objeto possa ser usado, é preciso que o sujeito tenha a capacidade de usá-lo.

Essa capacidade será desenvolvida durante a relação do objeto, ou seja, durante o princípio do prazer. A mãe suficientemente boa permitirá a transição da relação ao uso. Num ambiente sadio e suficientemente bom, o sujeito vai amadurecendo até conseguir destruir o objeto e torná-lo externo. O objeto sobrevive à destruição. Partindo dessa sobrevivência, o sujeito se sente seguro para usar o objeto, pois independente de amá-lo ou odiá-lo ele estará ali.

Nesse momento, surge o simbolismo. O indivíduo começa a perceber que o objeto transicional simboliza a mãe, mas não é a mãe propriamente dita, e usa símbolos como brincar de faz-de-conta. Na seqüência relaçãouso, é importante a presença da criatividade, assim a criança cria o objeto a fim de descobrir a própria externalidade.


Conclusões sobre o objeto transicional

É fundamental que o objeto esteja disponível em qualquer momento e lugar, principalmente quando a mãe estiver ausente, psicológica ou fisicamente. Dependendo do tipo de objeto, ele é ou não aceito pelas famílias ou responsáveis pelas crianças. Se é uma chupeta, a aceitação é mais tranqüila se levarmos este objeto transicional para fora de casa, mas quando se trata de um objeto menos aceito culturalmente, há maior resistência, principalmente quando a criança deseja levá-lo para a escola.

Muitas famílias só permitem o objeto transicional na hora de dormir, o que aumenta a ansiedade durante os momentos em que a criança necessita do objeto por um motivo interno ou externo. O objeto passa a ser posse da família, que dita os momentos em que estará disponível. É de fundamental importância a disponibilidade do objeto transicional para a continuidade no desenvolvimento psíquico da criança. A ruptura do objeto pode destruir o seu significado, não permitindo a transição a que se presta.

No início de seu relacionamento com o objeto, a criança o exige somente para dormir ou em momentos de solidão, angústia etc. Com o decorrer do desenvolvimento psíquico, ela o quer junto de si em qualquer momento ou lugar. A fase em que esta procura aumenta significativamente é chamada por Mahler de reaproximação (entre 14 e 24 meses).

É de fundamental importância a disponibilidade do objeto transicional para a continuidade no desenvolvimento psíquico da criança.

Nesta fase, há um sentimento de culpa porque a criança deseja tornar-se independente da mãe e individualizar-se. A criança acredita que, se ela deseja se tomar independente, a mãe também o quer, e tem medo de perder o amor do objeto (mãe). Diante desse sentimento de culpa, a criança busca "reaproximar-se" da mãe, exigindo proximidade e disponibilidade maior dela.

A criança terá maior necessidade de resolver esta transição de dependência relativa rumo à independência; a transição de uma mãe interna para uma mãe externa. Logo, o uso do objeto de transição vai se intensificar. Um ambiente sadio e uma mãe suficientemente boa é que permitem que o objeto transicional exerça suas funções em toda a plenitude.

Quando os pais aprendem a reconhecer a utilidade e as particularidades do objeto transicional, tornam-se bem mais tolerantes em relação ao seu uso. Assumem que o filho utiliza esse instrumento para se sentir mais confortado e seguro e não permitem que os outros zombem do comportamento da criança.

É claro que existem os que não suportam o cheirinho de uma fralda ou de um bonequinho que a criança não larga, impedindo que o objeto transicional seja lavado, com receio de que perca seu odor e textura característicos. O tato e o olfato estão entre os primeiros sentidos a serem desenvolvidos pelo bebê, por isso são dois fatores de identificação.

É por eles que o bebê reconhece a mãe: cheiro de leite e toque afetuoso. Por esta razão, qualquer grande mudança no aspecto do objeto transicional pode deixar a criança confusa e insegura.
Enquanto o objeto transicional estiver presente na vida da criança, os pais devem ter paciência para aceitar o agarramento contínuo a uma coisa inanimada.

Só devem se preocupar se este apego se tornar excessivo, pois não deve ser a ocupação principal da criança. Gradativamente ela poderá substituir o ursinho ou paninho por uma devoção absurda a uma pessoa ou outra ocupação (exceção à regra). A tendência natural da criança é deixar de lado o velho companheiro à medida que começa a se abrir para o mundo e a realidade que a cerca.

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