sábado, 6 de fevereiro de 2010

Objeto transicional e amigo imaginário - parte 1

Segundo o psicólogo D.W. Winnicott, o objeto transicional não é o primeiro objeto, ou seja, não é o primeiro brinquedo, ursinho, dedo etc. O objeto transicional diz respeito a "primeira possessão" da criança e também, a uma "área intermediária" entre o subjetivo e o que é objetivamente percebido. A "primeira possessão" refere-se ao objeto que não faz parte do corpo do bebê, mas que também não foi ainda reconhecido como parte da realidade externa.

A "área intermediária", que poderíamos chamar de TESTE DE REALIDADE, é um "estado intermediário entre a inabilidade de um bebê e a sua crescente habilidade em reconhecer e aceitar a realidade" (WTinnicott, 1978).


É uma área intermediária entre:

. Polegar e ursinho (o polegar teria uma função de sucção, sem fim transicional) ;

. Erotismo oral e a verdadeira relação de objeto;

. Atividade criativa primária (primeiras experiências: cheiro de algo, fantasias, imaginação etc.) e a projeção do que foi introjetado (experiências culturais, os complexos, o brincar etc.).

. Desconhecimento primário de dívida (a criança ataca a mãe ou o objeto sem ter uma dívida com o objeto atacado) e o reconhecimento desta (sentimento de culpa, medo da perda e reparação).

A "mãe suficientemente boa" (Winnicott) é aquela que permite ao bebê um objeto transicional. É por intermédio dela que a criança poderá prosseguir no seu desenvolvimento de transição do eu para o não-eu, do prazer irreal para o prazer concreto. Essa mãe não precisa ser a mãe natural da criança, e sim a pessoa que a toma sob seus cuidados.

A mãe deve primeiro descobrir seus próprios sentimentos, ser ela mesma, confiar, dar vazão ao ser mãe e ao amor pelo filho. Caso sinta que essa devoção é uma obrigação, os cuidados para com a criança não terão êxito. A mãe precisa crescer naturalmente, ajustar se ao impulso do filho.

Dessa forma, ocorrerá uma união emocional e uma crença na realidade externa, na qual se pode ter ilusões. O seio subjetivamente percebido vai se sobrepor ao objeto subjetivo do bebê. Winnicott associa a ilusão ao seio e a desilusão ao desmame. O seio representa tanto a técnica de maternagem quanto o órgão em si.

É na área intermediária de experiências que está o objeto transicional. A mãe suficientemente boa permite que o bebê tenha a ilusão de que aquilo que ele cria realmente existe (ou de que o seio faz parte dele).

Sendo assim, esta área da ilusão toma uma forma de objeto transicional, pois ali o bebê terá um objeto criado por ele mesmo. Esta é a importante tarefa da ilusão: permitir que um objeto externo represente o objeto interno. Só aí, depois de toda relação e uso da ilusão, é que essa mesma mãe, suficientemente boa, permitirá uma desilusão gradativa, por exemplo o desmame.

A partir desse estágio, a criança sabe que um brinquedo que cai poderá ser recuperado em seguida, sem que precise necessariamente sumir ou quebrar. Pegar o brinquedo do chão e devolvê-lo à criança é uma prova de que ele pode ir e voltar para ela. Essa ação que se repete, tantas vezes quanto a criança deseje, estará fortalecendo a confiança na mãe e, conseqüentemente, no mundo que a cerca, uma vez que a mãe é a referência do mundo.

A função do objeto transicional entra no momento em que a criança brinca com esse objeto estável e disponível. Ele será o depositário (representante da mãe) de seu ódio e amor, sem que tenha que desaparecer. A criança manipula a raiva pela mãe por meio do seu objeto transicional. Os sentimentos de raiva, culpa e reparação permitem que a espontaneidade dela não seja inibida. É a confiança que o bebê deposita na mãe que o torna autoconfiante, o que possibilita autonomia e liberdade.

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